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domingo, 14 de outubro de 2012

Sua Família se Mete no seu Relacionamento Amoroso?


Desculpe, mas a comparação ficou perfeita! Família italiana da novela Passione


"Olá, Dr.!Tenho 33 anos, sou solteira, de boa aparência. Meus relacionamentos anteriores terminaram por motivos razoáveis: um namorado de 4 anos envolveu-se com muitas dívidas; com o outro, com quem vivi em união estável por 3 anos, achamos que era hora de terminar, pois o amor havia acabado e ficado apenas a amizade e o respeito.
Enfim, tenho emprego estável (concursada no serviço público federal), concluindo um mestrado, estudiosa, independente, cidadã honesta. Sou reservada (sempre fui), seletiva com as amizades, que são poucas, mas boas e de longa data. Sou fiel aos meus relacionamentos. Sou de fácil trato, educada e calma. Minha família não influencia diretamente na minha vida. Meus pais sempre foram muito castradores: impediam-me de sair com as amigas na adolescência, proibiam-me de namorar. Ironicamente, minha mãe casou-se grávida de mim, fato que sempre escondeu. Ela, ao contrário das mulheres da geração, nunca me falou sobre sexo, menstruação, não me levou ao ginecologista. Ela sempre se dedicou mais à família dela, deixando os filhos e o marido em segundo plano.
Meu pai é uma figura nula, subserviente à esposa. Meu irmão, dois anos mais jovem, não se deu bem na vida e mora com meus pais até hoje, é dependente, tem pouca iniciativa.
Só fui ter uma vida normal, quando fui fazer faculdade na capital e, principalmente, aos 18 anos, quando comecei a exercer atividade remunerada. Hoje, pago uma pensão mensal para meus pais e eles vêem-me como um “fundo de pensão”. Nosso relacionamento é de indiferença. Continuam ocupados com os problemas da família da minha mãe. Pois bem, no ano passado, conheci um homem 10 anos mais velho, divorciado, realizado profissionalmente. Namoramos durante 1 ano. Socorrendo-me das próprias palavras dele: “foi o relacionamento mais intenso que já tive. Embora ele seja mais extrovertido do que eu, vínhamos conseguindo contornar as diferenças. Fizemos viagens lindas, a química era ótima, os cuidados e a preocupação com o outro, fizemos planos, ficamos noivos. Eu o amo e sei que ele ainda me ama, mas precisei terminar tudo há 1 mês atrás. 
Quando nos conhecemos, combinamos de falar sempre a verdade.
Eu disse que era uma pessoa independente da minha família, que era reservada, caseira, dedicada ao trabalho e ao estudo, que vinha de uma família portuguesa recatada e fechada. Ele também se disse reservado, independente da família, solitário, que passou Natais e Anos Novos sozinhos e que se separou, pois a esposa o traía com um antigo namorado, mais jovem, porém sem grana, antes e durante o casamento. Os primeiros meses de relacionamento foram ótimos. A família dele sempre nos deixou à vontade.
Conheci-os em novembro passado, no aniversário dele (mãe,pai, madrasta, duas irmãs e um irmão do segundo casamento com o pai).Todos pareceram-me muito simpáticos, à exceção da irmã mais nova, que por ser oposto do meu comportamento (explosiva, fumante inveterada, meio abrutalhada), não tivemos muita empatia. Os demais encontros sempre foram muito cordiais, mas formais. A família, por maioria, aprovou-me. Italianos, falantes e gesticuladores, disseram que, apesar de eu ser quietinha, era a primeira vez que ele encontrava uma mulher direita, de nível e culta. 

A partir dessa aceitação, notei que ele passou a querer transportar a família dele para o nosso relacionamento ou levar o nosso relacionamento para dentro da família dele. 
Explico-lhe. Ele começou a fazer coisas que antes não fazia, como: ligar para a mãe, para o pai e para a madrasta nos momentos mais inesperados, por exemplo, quando estávamos sozinhos fazendo caminhada na praia, passeando de barco e, até, diante da Torre Eiffel. Ou seja, momentos que, para mim, eram da intimidade do casal, passaram a ser interrompidos com essas ligações. Imagino que, numa lua-de-mel, ele ligaria para a família de hora em hora. Passou a compartilhar com os pais coisas que só diziam respeito a mim, ou a mim e a ele, como questões profissionais minhas, pequenos gestos de amor meus para com ele (a entrega de uma flor do campo, uma carta de amor, etc). Cheguei a pedir para que ele não fizesse isso, pois eu era uma pessoa reservada e achava que algumas coisas pertenciam somente ao casal. Mas não adiantou. Passei a compreender que ele não tinha segredo para com a família, fosse de que ordem fosse. Indiretamente, ele insinuou que deveria agir como tia dos dois sobrinhos dele (9 e 1 anos), pedindo que eu os chamasse de sobrinhos, e não pelo nome, que eu ligasse para o celular do menino maior. Ora, eu, se fosse mãe, não gostaria de saber que a mera namorada do meu irmão estava ligando para o celular do meu filho, sem antes falar comigo! 
Não bastava que eu fosse educada e atenciosa com os pais, a madrasta e os irmãos dele: eu tinha de reverenciá-los, ligar para eles diariamente, participar da vida deles, intrometer-me na separação da irmã e nos problemas de todos eles. Nenhum desses desejos dele eu cumpri, por eu não ser uma pessoa invasiva e por achar que eu deveria agir naturalmente como sou. Se passávamos um dia inteiro juntos, chegava a fazer umas 15 ligações sem motivo para a família, sempre à minha vista. Contava até o que comemos no almoço, os detalhes de onde fomos ao longo do dia. 
Penso: isso é dependência? Uma forma de mostrar que a família dele se dava muito bem ao contrário da minha? Ou outra coisa? O estopim foi quando o sobrinho dele completou 1 ano, em abril, e eu não faltei ao trabalho para comparecer à festa. Dois dias depois, ele reclamou, pois eu também não compareci ao aniversário da ex-sogra da irmã dele. Disse que são todos uma grande família e que era minha obrigação ter ido se tinha mesmo a intenção de estar com ele pra sempre. Nesse dia eu resolvi terminar, alegando que jamais levei qualquer problema da minha família para ele, problemas, aliás, que ele nunca procurou saber quais eram, que eu era uma mulher que trabalhava muito e que não tinha tempo para frequentar reuniões da família dele, além das necessárias. Que um casal tem atividades obrigatórias, mas também tem as facultativas... Ele disse que eu sou um ser humano isolado e que queria separá-lo da família. 
Para mim, foi a gota d’água. Não me considero ciumenta, os pais dele eram-me pessoas queridas, que sempre me trataram com educação e assim foram tratados.
Davam-me presentes, eram presenteados. Mas, parece que o filho deles queria que eu fizesse mais que isso: que eu agisse como filha deles, que eu fosse tia dos sobrinhos dele, a melhor amiga das irmãs dele.
Uma última coisa: como planejávamos nos casar no civil em julho, tenho muitas roupas e objetos na casa dele, os quais ele reluta em devolver-me, não sei se por pirraça ou se para não cortar um último vínculo entre nós dois. 
Amo-o. Estou sofrendo, pois meu sentimento era sincero. Sei que ele também está, mas penso: é viável tentar prosseguir nesta relação? Sou muito independente, trabalho bastante e não me vejo no ritmo dessa família tão grupal. 
Estou certa no meu raciocínio ou pequei em alguns pontos? Obrigada!"

Querida A.,

Nem tudo que não concordamos deve ser visto como incompatibilidade de gênios, mas nesse caso vocês têm uma história familiar muito diferente e não adianta nos enganarmos, nosso relacionamento se estende a família sim. Claro que parece que seu ex-noivo estava exagerando, um homem de 43 anos já deveria ter um entendimento maior daquilo que é plausível de ser dito com relação à intimidade do casal e aquilo que se troca com a família de origem.

A., temos que estar muito atentos a isso sim, você tem razão quando se coloca dessa forma, pois vemos que o sofrimento é premente e contundente. Nossos núcleos familiares originais são responsáveis por nossa formação e comportamento, com o passar do tempo, à medida que estudamos e vivenciamos outras experiências nos aproximamos ou nos afastamos desses vínculos em função daquilo que passamos a chamar de maturidade, que tem muito a ver com nossas escolhas. No seu caso você decidiu se afastar e ele se aproximar, o ideal é o meio termo, mas acima de tudo respeitar as decisões de cada membro e principalmente as nossas.

Percebo que há esse descompasso na forma que vocês vêem essa situação e o que te afastou dele, me parece que não foi a relação dele com a família, mas muito foi a pressão que ele passou a exercer para que você participasse tanto quanto ele.

O que posso te dizer? Arriscaria que você é uma taurina, segura e que sabe o que quer, mas também que há uma dificuldade de criar vínculos de intimidade, o que tem muito a ver com sua história familiar. 
Tenho duas coisas a te dizer: primeiro procure uma atividade que te alimente emocionalmente, que te faça esquentar um pouco, talvez dançar seja uma boa alternativa (deve ser muito tranquilo namorar você, e isso é muito bom, mas todo homem gosta de uma mulher que se apimente de vez em quando, perder um pouco o controle, se entregar...); a segunda, se vocês se amam vale a pena uma conversa franca, sincera, sem brigas, explicando se vocês podem chegar a um meio termo. Não que ele vá mudar (é bom que você saiba disso), mas para que fica claro, que se estabeleça posicionamento e passe a entender que tipo de atitude vocês tem diante disso, e saber se há respeito o suficiente para seguir adiante.

Boa Sorte e Fique Bem.

Alexandre Santucci
Psicólogo

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Publicado no SeR em 27 de Maio de 2010 16:41

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