
Estaria mentindo se dissesse que este relacionamento só
me faz sofrer. Gosto demais deste homem. Sua inteligência e competência são um
exemplo para mim. E de certa forma ele cuida de mim. Explico: saí de casa aos
20 anos, por não me dar bem com meu padrasto. Passei por muitas dificuldades, e
ao conhecê-lo ele quis mudar minha vida. Arranjou um bom apartamento para eu
morar, pagou todas as minhas dívidas e desde então me orienta, tem sido meu professor
e ajudante nas questões financeiras e profissionais.
As pessoas que me conheceram
antes percebem facilmente o quanto mudei, para melhor. Tudo seria perfeito se
não fosse o fato de ele ser casado e já ter dito que vive bem com a esposa e que
por isso, seria muito difícil separar-se. Ela é 8 anos mais nova que ele. Ele é
divorciado e mora com ela há 7 anos. Ele é carinhoso, muito atencioso, sempre
dá um jeito de me ver. Saímos para almoçar e jantar fora, vamos ao shopping,
passeamos, fazemos amor. Vários amigos dele me conhecem e inclusive saímos
juntos para jantar ou almoçar. Ele é meu melhor amigo: é com ele que divido
minhas tristezas, minhas conquistas, ele me encoraja a crescer como pessoa e
como profissional, é ele também que me acompanha quando faço algum exame. Está
ao meu lado, mesmo que à distância, em "todos" os momentos. E eu
sofro, porque queria fazer parte da vida dele.
Queria que fosse meu
companheiro, sem hora marcada, sem hora para ir embora. Ele tem que ficar me
ligando escondido aos finais de semana, mandando torpedos. Isso é péssimo. Ele
diz que gosta demais de mim mas, que uma decisão dessas não pode ser tomada de
um hora para outra. Ele é muito materialista e tem medo de perder dinheiro ao tomar
a decisão de ficar comigo. Sei que essa situação é cômoda para ele. Queria terminar,
inclusive já fiz isso uma vez, mas voltamos logo. Ele me procurou chorando, dizendo
que não conseguia e não queria ficar longe de mim. E eu acabei voltando, por gostar
demais dele. Nossa relação de amantes não é convencional. Ele me cobra fidelidade,
me monitora. Sabe de todos os meus passos, coisa que faço sem nenhum problema.
E vou vivendo assim. Esperando a coragem chegar. Quero ficar com ele e chego a
acreditar que isso pode acontecer, mas minha vida está passando e não posso esperar
por algo incerto. Preciso de ajuda.”
Electra (esse foi o termo usado por Jung -
psiquiatra suíço contemporâneo de Freud, criador da psicologia analítica,
também chamada junguiana, baseado na mitologia que indicava o amor da
menina/mulher por seu pai, mito semelhante ao de Édipo - usado por Freud, para
ilustrar o complexo tanto no masculino como no feminino),
Parece estranho, mas é mais comum que você imagina.
Muitas mulheres e homens são muito influenciados pela “figura” dos pais, essa
influência no caso das mulheres pode gerar uma amor maluco pelo pai, ou o que é
muito comum, se desloca para os relacionamentos. Essa hipótese me parece seu
caso. Talvez a briga com seu padrasto (figura paternal), tenha muito mais a ser
explicado, provavelmente o processe da sua criação ficou marcado por uma ação de
muita energia com ele, assim sua briga, sua saída de casa te deixou um espaço a
ser ocupado, um deslocamento, culminando na figura do seu amante, que mais me
parece um tutor que um homem de afinidades para um relacionamento homem e
mulher.
O que aflige não é necessariamente perdê-lo, mas sim
encontrar outro que possa cumprir essa mesma função.
Veja o que você relata, ele é um “ajudante”, pagou
suas contas, um professor, podemos resumir que ele te “adotou”, mas só adotamos
crianças ou discípulos, dependentes.
O saudável em um relacionamento são pessoas inteiras
que se ajudam, repito se ajudam, mutuamente e crescem. Não vou aqui decorrer
sobre a presença dele, que também tem uma deficiência uma vez que te adotou,
passou a ser complementar nessa neurose.
Você deve ter notado que não falei da diferença de
idade, que realmente não importa, mas sim que ele representa essa figura
paterna. Para completar ele é casado, assim você tem uma mãe como algoz, rival,
e igualmente você não põe um ponto final nessa história, como se não quisesse
magoá-la, mas mesmo assim quer ele só para você e não só os passeios...
Cara Electra, sinto muito em desanimar, mas
dificilmente ele deixará essa mulher, e mesmo que a deixe não vai funcionar,
por que a dinâmica desse “relacionamento” só funciona assim, é neurótico e sua
saída é realmente buscar uma nova consciência, saber dos seu medos, analisar
sua história e sair desse ciclo.
De maneira saudável você poderá encontrar um homem
livre e que olhe para você como mulher e não um ser dependente e carente.
Boa Sorte!
Alexandre Santucci
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Publicado no SeR em 08 de Setembro de 2010 19:54
Georgia Maria diz:
Eu ia complementar os conselhos do Alexandre
Santucci, mas além de terapeuta, é um homem tão vivido quanto eu e deu a
resposta não só como psicólogo, mas como homem também.
As pessoas nos procuram não pra ler esse tipo de alerta, mas para achar uma solução mágica, um encantamento, para conseguirem ser felizes.
As pessoas nos procuram não pra ler esse tipo de alerta, mas para achar uma solução mágica, um encantamento, para conseguirem ser felizes.
A felicidade só existe no possível. No impossível, e
pior, no impossível sabido, se torna agonia.
Procure alguém desimpedido ou viva sua meia vida,
até o momento que ele não lhe servirá mais como homem, nem pra passear de mãos
dadas no shopping, porque você vai querer mais da sua vida. Ou então, se
conforme em ser alguém que só serve pra satisfazer o ego de um outro alguém.
Por mais doloroso que seja ler isso, todo mundo procura num(a) amante aquilo
que lhe falta de sonhos em um relacionamento. Mas não se vive só de sonhos.
Então, passou da hora de acordar.
Um dos piores defeitos das mulheres é achar que se
vive de ilusão. Não se vive; quem inventou essa frase era um pobre sonhador.